jueves, 5 de marzo de 2020

Breve biografia de uma cinéfila. Sônia Cardoso. Psicóloga Clínica. Belém. Pará. Brasil


Breve biografia de uma cinéfila
Sônia Cardoso
Psicóloga Clínica
Belém (Pará) Brasil
Março de 2020 



Sônia Cardoso
Belém do Pará
Menininha

 É sempre muito agradável lembrar que o cinema foi para mim a maior referência afetiva em preparação para a minha escolha vocacional.
 Sempre gostei muito de livros, minha casa da infância tinha um boa biblioteca que me fazia sonhar em ver e ser o que sentia lá no fundo do meu coração como algo bom, belo e verdadeiro. 
 O cinema só veio amalgamar tudo que sentia em contato com a literatura

Sônia Cardoso
Belém do Pará
Menininha

 Eu nasci num bairro antigo, de mais de 400 anos, a Cidade Velha, em Belém do Pará. Minha casa era uma autêntica preciosidade arquitetônica de estilo neo-clássico do final do século XIX. 
 Nesse bairro existia um cinema que se chamava Cine Guarani onde vi pela primeira vez um filme: "Marcelino Pão e Vinho" (1955). Fiquei extremamente impressionada com a história pura e comovente do menino quase santo. E trouxe para casa a sensação de responsabilidade espiritual que iria me acompanhar para a vida toda e que foi potencializada, posteriormente, com os filmes de Tarkovski e Bresson

Imagem acima do Cine Guarani. Prédio em art nouveau da década de 50. 
Belém do Pará

"Marcelino, pan y vino" (1954). Ladislao Vajda
"Marcelino Pão e Vinho"
Cartaz do Filme

 Eu estudei toda a minha formação básica num colégio católico, onde também tínhamos aulas de filosofia que foram fundamentais para desenvolver meu pensamento crítico e analítico, tão necessário para a minha profissão futura. No Colégio Nossa Senhora do Carmo tive um professor que adorava o filme a "Noviça Rebelde" (1965). Seu relato sobre o filme me fez ter uma curiosidade intensa para ver os alpes austríacos que ele tanto enfatizara. Nada do que ele disse sobre o filme se conectou com a impressão quase epifânica que tive com esse filme. Talvez um dos mais importantes na minha vida. "The Sound of Music", junta meu amor pelo cinema, pelo teatro e principalmente, pela música. Até hoje posso recitar alguns diálogos do filme com muito desembaraço. Assisti muitas vezes e sempre com a mesma sensação de total compreensão que a vida pode ser muito difícil, mas que sempre haverá a possibilidade de realização, como diz a letra da canção “Climb every montain”:
~
Siga todos os arco-íris
Até encontrar o seu sonho
Um sonho que vai precisar
Todo o amor que você pode dar
Todos os dias da sua vida
~
 A mensagem era clara: tenha um sonho, lute por ele e mesmo quando conseguir, cuide com todo o seu amor, todos os dias.  Uma lição de perseverança e paciência, como dizia minha mãe

"The Sound of Music" (1965). Robert Wise
"A Noviça Rebelde"
Music: Rodgers & Hammerstein
Soundtrack. LP. RCA Victor. Brasil

"The Sound of Music" (1965). Robert Wise

 Havia também uma cadeia de cinemas em Belém, que se chamava Cinema 1, 2 e 3, que tinha sessões matinê, às 10h 00 da manhã, que era certamente o meu melhor programa de domingo

Cinemas 1, 2 e 3
Rua São Pedro
Belém do Pará

 Naquelas salas vi filmes importantes como "Meu amigo o dragão" (1977), "A Fúria de Titãs" (1981) e "Annie" (1982). Era um programa familiar e eu adorava almoçar com meus primos e primas depois das sessões para gente comentar sobre os sentimentos que a gente tinha ao ver tantas aventuras especiais. Os pensamentos e emoções envolvidos eram o meu maior interesse. Sempre perguntava algo sobre aos meus primos e primas, você chorou em tal parte? O que sentiu quando os nazistas perseguiam a família Von Trapp? Gostou quando Perseu cortou a cabeça da Medusa? Por que você prefere mais os filmes de aventura que os musicais? Tudo me interessava. E ainda hoje percebo que as melhores conversas que tive na vida foram sobre cinema.

"Pete's Dragon" (1977). Don Chaffey
"Meu Amigo o Dragão"
Cartaz

"Clash of the Titans" (1981). Desmond Davis
"A Fúria de Titãs"
Original Poster

"Annie" (1982). John Huston
Original Poster

 Só muito tempo mais tarde quando realizava minha análise pessoal para tornar-me psicanalista, entendi que foi depois de assistir ao filme "De volta para o futuro" (1985), quando estava com 15 anos, que decidi ser psicóloga, para entender o que é o paradoxo que o Dr. Brown colocava no filme como tão ameaçador que poderia colocar o próprio Universo em colapso. Pode parecer uma forma jocosa para se escolher uma profissão, mas no meu caso teve desdobramentos profundos

"Back to the Future" (1985). Michael Zemeckis
"De volta para o futuro"
Cartaz. DVD. Brasil

 Meu primeiro emprego foi numa locadora de áudio-visual e foi lá que tive ainda mais contato com a sétima arte. Vi todos os filmes disponíveis do Peter Greenaway, Fellini, Kurosowa, Buñuel, Hitchcock, Billy Wilder e tantos outros. 

 Da experiência estética mais importante da minha vida, ter visto "Gritos e Sussuros" de Ingmar Bergman já madura, experiente e realizada profissionalmente, compreendi que o cinema foi tão importante para a minha formação quanto a faculdade de psicologia e essa sensação, além de linda, e altamente reveladora de mim mesma, me dá uma certeza harmoniosa que me acompanhará indefinidamente

"Viskningar och rop" (1972). Ingmar Bergman
"Gritos e Sussurros"
Cartaz. Brasil



4 comentarios:

ACORAZADO CINÉFILO dijo...

Sônia Cardoso, psicoanalista de Belém, nos manda este hermoso artículo con sus recuerdos de cine en la infancia. Obrigado

Sônia Cardoso dijo...

gracias, Francisco Huertas Hernández! Realmente disfruté escribiendo sobre mis recuerdos de cine en la infancia. Siempre es bueno recordar cómo el arte puede ayudarnos a encontrar nuestro verdadero camino en la vida ... <3


Wildberry continua dijo...

Muy emocionante. Experiencias vitales a través del cine bellamente narradas. Muito obrigada.

Estrella dijo...

Interesante. El portugués se entiende y lo que es universal es el el lenguaje del cine. Otra persona más enamorada del cine. No sé si forma parte también de este grupo. Enhorabuena.